segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

MINHA (NÃO) COR PREFERIDA É CINZA (ou soneto para um dia de suposta nublação)

Eu sinto, sobre mim, o céu descer
Toco o cinza das nuvens com furor...
Olho em volta e, para sobreviver,
Baixo os olhos coberto de horror...

Nada tenho que diga em meu favor
 A vida foi o ofício de sofrer
Experimentei, da crueldade, a dor
Só desamparo e tédio pude ver...

 O cinza nem de ser cor teve a sorte
É meio termo entre ser preto e ser branco
Mas significa muito para mim:

O cinza prenuncia a dor da morte
E denuncia um diagnóstico franco:
A bipolaridade sou. Sou sim!


Émerson Cardoso
30/04/11


SONETO PARA QUEM MELHOR ENXERGA (porque vê com os olhos da poesia)


Se meu porvir for uma noite escura
Se nas sombras os meus dias se quedarem
Se meus pés aos abismos se inclinarem
Nada me será Dor ou desventura...

Se minha vida for só Amargura
Se as cores meus olhos não mais fitarem
Se nunca mais o mundo contemplarem
Não me guiarei por sendas de loucura...


Não! Terei comigo a luz mais fulgente:
Desfarei a escuridão sempre em versos,
Serei a Esperança em nova alegria!

Quero, por meio de Palavras pungentes,
Meu Ser derramar de modos diversos
E andar guiada pelas mãos da Poesia!


Émerson cardoso
(Para Siddha Abraxas, em 12/04/12)




ESPECULAÇÕES SOBRE A AMIZADE


Uma verdade expurgada seja:
Como seria a vida
Sem contemporâneos de abertos braços
À amizade afeitos?

Mediocridade, egoísmo, entraves,
Gestos facínoras típicos do homem?
A amizade não...

Quando existente,
Sequer suscita mesquinharias.
Murmúrios de sol em madrugada alta,
A amizade boceja sempre perdão...

Quem se entrincheira em si mesmo,
Ou deforma-se no egoísmo desmesurado,
A amizade não...

Quando, de fato,
Sequer conhece da inveja a maldição.
Giros de claridade em cômodos obscuros da alma,
A amizade na covardia não ergue morada...

Infidelidade, soberba, intolerância,
Devastações advindas de imaturas bocas?
A amizade não...

Quando desvelada,
Sequer murmura incompreensões.
Olhares cúmplices de riso em funestos âmbitos,
A amizade torna possível a existência de quem vivo é.

Mas é necessário reconhecer
Quão rara é a amizade em nossa vida,
Pois que deve ser sufrágio explícito
Contra dissabores e desamparos...

Desconfiança, silêncio e solidão?
A amizade não!
Émerson Cardoso
22/02/14