A morte havia encarcerado, às vezes, os que eu tornara amigos...
Não aconteceu assim contigo,
Não foi assim...
Diferente dos que fugiam da casa pela morte agrilhoados,
Tu a batalha venceste: um irmão distante decidiu buscar-te!
Quando te procurei na casa do abandono,
Vesti-me de uma alegria consumida em dor:
Menininha de riso fácil,
Pregaste uma peça na morte e em mim!
Tarde de maio amarelecido nas mãos,
Veste branca para te agradar,
E deram-me a notícia de que tinhas ido...
Eu sequer pude me despedir:
Nada de marejados e fundos e tristes e perdidos olhos!
Tu foste esperta e corajosa e desprezaste - com razão -
A casa do abandono...
A notícia me deixou perplexo porque sei que não vou mais te ver,
Porém a certeza tenho de que um amparo finalmente te foi servido...
Eu, alegre-triste, não me esquecerei
De que houve, numa casa propícia a desamparos,
Ser humano leve e de fragílimo corpo que dizia: "Eu sou dos astros!"
Talvez noutras vidas, noutros planos
Nós nos encontraremos e o desencontro que nos flagrou
Seja de todo, por nós, abandonado!
Tatearei, um dia, teu chapéu ornado com flores plásticas
E ouvirei novamente, assim espero, teu riso contido
De menina flagrada fazendo danação...
Émerson Cardoso
20/05/2013
(À D. Zefinha: EX-moradora do Abrigo da Mãe das Dores)
Mesmo com um tema mórbido apresenta imagens tão lindas. Me demorei demasiadamente sobre os dois últimos versos, quase que sem conseguir deixá-los.
ResponderExcluir"E ouvirei novamente, assim espero, teu riso contido
De menina flagrada fazendo danação..."
Que bom que gostou, Lívio! Depois, quando nos encontrarmos, poderei te contar a história real que há por trás desta poesia! Abraço fraterno!
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