Minhas almofadas, inconsoláveis,
Chorosas e empoeiradas
Perderam as cores
Foram-se hoje com a pressa
De uma mão que acena adeus...
Alguns dos meus livros ficaram macambúzios
Recebendo, de mim, a libertação numa caixa
Meus porta-retratos, adornos, vasos
Libertaram-se de meus apegos
Deram-me adeus até os quadros...
Minha geladeira silenciou
Com asperezas de neve
E, com olhos inconformados,
Foi, suspensa no ar,
Tirada de mim...
Meus vasilhames de verdes cores,
Alumínios e demais utensílios foram-se.
Meu armário, sem aceitar, partiu
Com um vaso de flores empoeiradas
E traças que em suas gavetas ocultaram-se...
Meu fogão ensimesmou-se,
Meus livros entrincheiraram-se no rancor,
Meu som calou-se entristecido,
Meus adereços da estante aturdidos ficaram:
Tudo foi corrompido por um inevitável adeus...
Meus quadros divorciaram-se das paredes,
Imergiram em caixas, com rancor, meus filmes,
Minha mesa, com suas cadeiras, revoltaram-se,
Minha poltrona e cama e tapetes furiosos
Deram-me as costas para não se despedirem...
Limpei minha casa - calado eu e ela calada
Atirei contra mim mesmo suas portas
E fechei-a altivo, mas não menos quebrantado
Até que minha idosa vizinha achou por bem
Abraçar-me com palavras de Deus-o-acompanhe...
07/04/14