sexta-feira, 17 de outubro de 2014

QUANDO UMA MÃE DOA UM FILHO (ou história triste de um mês de julho pobre)

Diz a memória que era linda a menina
Menina de cabelos negros e pele clarinha
Colocaram-na sobre a cama dos patrões da mãe
(Da pobre mãe da menina há pouco nascida)

Diz a memória que um primeiro de julho era
De ano funesto como espinho que aos poucos fura
Esta mãe, sem nada e sem ninguém que por ela punisse,
Instigada pela mulher do patrão disse: sim...

Sim, que família distante me venha roubar a filha,
Porque no mundo uma mãe criar um filho não pode
(Mas na hora da partida pediu, com os olhos:
Deixem-na comigo um-pouco-mais-para-sempre)

Não consentiram (a menina em nova manta se foi)
A mãe, com o vazio choroso nos braços,
Viu crescer uma ausência de faca pontiaguda
Que rasgou olhos, braços, coração...

Diz a memória que linda era a menina
E que a mãe não sabia que a ausência de um filho
Poderia pesar, por toda vida, infindas toneladas
A cada sim que a lembrança desejava transformar em não...



(Ao som de Duerme negrito, na voz de Mercedes Sosa)

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