sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A HAMARTIA DE EROS


Não nasci ao lado do ser espiritual
Que, nesta vida, me seria complemento e afeto.
O amor não se fez carne,
Nem habitou em mim.
O amor ficou no verbo 
Que não conjugarei jamais.
Adeus, meu amor que não nasceu!
Espera-me, não me demoro! Adeus! 

Émerson Cardoso
11/12/2015


MEUS DESLOCAMENTOS


Não, mundo, não o suporto:
Nasci com saudade do que é mistério
E se não fujo de ti com rancor e fúria
É porque a desvida já me será um dia.

Tudo me agride e assusta e me convida à fuga.
Sobrevivê-lo, mundo, será minha rebeldia.
Quem me redimirá de conhecer tuas misérias?

Émerson Cardoso
11/12/2015

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

CANÇÃO DE NINAR SOB O CÉU DE AUSCHWITZ


O inverno tange do outono as cores:
Descansa o peito, humana sombra.

Humana sombra, descansa o dorso
Nas pedras frias que te abriram fráguas.

Mortalhas nebulosas te afagam
Comendo o corpo que já perdeste.

Dorme, semblante tétrico, dorme,
Logo a aurora te redimirá.

Fere o dedo co'a ponta dos olhos,
Dispa o sono co'a dor que te ofertam.

Mesmo que Bianco almeje embalar-te,
Valas querem muito mais tuas cinzas.


Émerson Cardoso
(Após ler Paul Celan, ao som de "Plegaria", de Eduardo Bianco) 
30/11/2015