quinta-feira, 3 de outubro de 2019

PROMESSA DE BOM FUTURO A QUATRO MÃOS

Leonid Afremov

Sábado de prata
Xilograva amizade
Em banco de praça.

O tempo, que a tudo apaga, 
Demorará muito
A atirar adagas?

E a distância, amarga,
Erguerá quantos punhais
Com adeus que esmaga?

Em banco de praça,
Muitos fizeram promessas
Que a existência embarga.

Na vida, o que se propaga
É tempo de para-sempre
Que a amizade arrasta.

E a manhã, que a tudo afaga,
Derrama gotas de chá
Em sentidas águas.

Émerson Cardoso
20/01/2019 – 22/08/2019
  




DESOBEDECENDO A RILKE (ou notas sobre o amor ausente)


Imagem linda que não sei quem criou,  
apesar de pesquisar muito

Você viu passar, por aqui, o amor?

Foi dispersão ou medo?
Brinquedo em quantas fugas?
Virar do rosto quando deveria olhar?

Em cada passo apressado passeei dormente
À espera de sinais que nunca chegaram:
Percebi só a superfície do meu olhar sem chão.

Você ainda vê o amor
Quando ele, invisível, se pavoneia ausente?
É tempo de amar, apesar do abismo?

Solidão sem trégua se abre para meu corpo-medo.
Vixe! Mas o que é isto?
Há um verde nascendo em meu olhar sem prece.

Émerson Cardoso
03/10/2019




segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

HAIKAI CINEMATOGRÁFICO

E o herói se reabilita:
O mundo o destrói,
A esperança o ressuscita.

Émerson Cardoso
20/09/2018

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

A CASA DO SÍTIO




À sombra de um tamboril,
Com flores eleitas no terreiro,
E porta aberta com mesa do santo à mostra,
Sorria de taipa a casa, com verde na cor e entreaberta janela.

Rústica escada de pedras,
Portas com duplas aberturas,
Pomar convidativo à espera 
E vozes estridentes a confundirem-se cotidianas.

De fora, o vento a desejava
Com sedentas e cobiçosas mãos.
O tempo foi mais forte do que o vento
E a atacou de dentro dos cômodos com crueldade explícita.

As janelas cerraram,
As portas despediram-se,
O verde ruiu nas paredes e flores
E as vozes, depois do pranto, silenciaram.

Émerson Cardoso
17/01/2019