domingo, 27 de outubro de 2013

DESENCONTRO



Olhei pela janela e vi:
Eu passava olhando para mim mesmo em silêncio...

Eu, da janela, olhei para mim
Eu, com passos de quem se perdeu, me olhei...

Olhares encontrados:
Eu, em mim, os olhos fixei...

Que efeito estranho ver-me de tal modo
À janela e a andar!
Eu era eu mesmo em dois extremos:
Cada gesto meu eu percebia
Cada olhar perscrutador, por mim lançado, eu identificava
E andei às pressas...

Como meus olhos andaram revoltos,
Será que eu esperaria por mim se da janela eu gritasse?
Se da rua meus olhos pedissem, será que da janela eu desceria?

Fui embora pelas ruas
Da janela, saí silente
Olhei o vazio
Pisei no vazio
E, para sempre, desfiz as possibilidades do amor...

...porque eu amaria a mim com intenso ardor!

Mas sequer tive coragem de, ao olhar, dizer, para mim mesmo,
Que meu coração sangue bombeava...

Numa esquina dobrei
Um novo cômodo, em casa, percorri
E a vida amargou em profusão

Eu teria, comigo mesmo, vivido uma história plena
Mas de desencontros se fez minha alma
E, sempre em silêncio, me vesti de solidão.

Émerson Cardoso
(16/03/10)




BALADA CONTRADITÓRIA


Em noite alta
Palavras vêm,
Mas falta algo
(Será alguém?)

Noite estrelada
Palavras vão.
Não falta nada
(Ninguém, ninguém...)

Que poesia 
Pode existir
Se ela vem
Depois se oculta?

O meu lirismo:
Canção tristonha
Que chora sempre
Ninguém escuta...

Noite tão alta
Palavras vêm,
Mas falta algo
Será alguém?

Ninguém, ninguém
Sozinha a vida
Parece festa 
De mil canções

Canções ferozes
Que lembram morte,
Solidão, dor, 
Melancolias...

Aonde ir?
Onde estará?
Quero palavras
Para cantar

Sem a palavra 
Que tanto busco
Há poesia? 
Acho que não...

Melhor assim
Querer alguém
Ninguém, ninguém
E solidão...

Ó Noite alta,
Onde a palavra
Que tanto busco
Que não me vem?

Ninguém me escute 
(Alguém, alguém!)
Falta-me algo
          Falta ninguém...          

Émerson Cardoso
(17/12/09 - 26/10/13)







sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ODE AO FILOPOETA


De fixos olhos como que assombrado
Os deslimites da vida recria
No incerto da palavra fugidia
Tem, em silêncio, o mundo contemplado...

É um privilégio tê-lo encontrado
Neste século de melancolias...
Sua presença neste mundo me amplia
Conforto e paz em domingos nublados...

Seus fixos olhos vieram profundos
Quando ultimava certo mês de outubro
E tocaram, ávidos, a existência...

De percepções amplas gira seu mundo
Suas sóbrias loucuras sempre vislumbro
Como se visse a mim mesmo em essência...
Émerson Cardoso
(Para N. J., em outubro de 2013)