Olhei pela janela e
vi:
Eu passava olhando
para mim mesmo em silêncio...
Eu, da janela, olhei
para mim
Eu, com passos de
quem se perdeu, me olhei...
Olhares encontrados:
Eu, em mim, os olhos
fixei...
Que efeito estranho
ver-me de tal modo
À janela e a andar!
Eu era eu mesmo em
dois extremos:
Cada gesto meu eu
percebia
Cada olhar
perscrutador, por mim lançado, eu identificava
E andei às pressas...
Como meus olhos
andaram revoltos,
Será que eu esperaria por mim se da janela eu gritasse?
Se da rua meus olhos
pedissem, será que da janela eu desceria?
Fui embora pelas ruas
Da janela, saí
silente
Olhei o vazio
Pisei no vazio
E, para sempre,
desfiz as possibilidades do amor...
...porque eu amaria a
mim com intenso ardor!
Mas sequer tive
coragem de, ao olhar, dizer, para mim mesmo,
Que meu coração
sangue bombeava...
Numa esquina dobrei
Um novo cômodo, em
casa, percorri
E a vida amargou em
profusão
Eu teria, comigo
mesmo, vivido uma história plena
Mas de desencontros
se fez minha alma
E, sempre em
silêncio, me vesti de solidão.
Émerson Cardoso
(16/03/10)
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