domingo, 27 de outubro de 2013

DESENCONTRO



Olhei pela janela e vi:
Eu passava olhando para mim mesmo em silêncio...

Eu, da janela, olhei para mim
Eu, com passos de quem se perdeu, me olhei...

Olhares encontrados:
Eu, em mim, os olhos fixei...

Que efeito estranho ver-me de tal modo
À janela e a andar!
Eu era eu mesmo em dois extremos:
Cada gesto meu eu percebia
Cada olhar perscrutador, por mim lançado, eu identificava
E andei às pressas...

Como meus olhos andaram revoltos,
Será que eu esperaria por mim se da janela eu gritasse?
Se da rua meus olhos pedissem, será que da janela eu desceria?

Fui embora pelas ruas
Da janela, saí silente
Olhei o vazio
Pisei no vazio
E, para sempre, desfiz as possibilidades do amor...

...porque eu amaria a mim com intenso ardor!

Mas sequer tive coragem de, ao olhar, dizer, para mim mesmo,
Que meu coração sangue bombeava...

Numa esquina dobrei
Um novo cômodo, em casa, percorri
E a vida amargou em profusão

Eu teria, comigo mesmo, vivido uma história plena
Mas de desencontros se fez minha alma
E, sempre em silêncio, me vesti de solidão.

Émerson Cardoso
(16/03/10)




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