quinta-feira, 30 de abril de 2015

TRATADO SOBRE DISTANCIAMENTOS

Amar a humanidade algo simples deve ser
(Sobretudo se esta permanecer distante!)
Se esta, no entanto, aproxima-se
Com suas contradições, incertezas e falhas,
Personificada em alguém que encontramos
Nos descaminhos que a vida impõe,
Aí a náusea não economiza em vômito
Dor e fel em profusão afloram...

A distância parece solução para os conflitos
De que se vale a humanidade:
Quem odiará os que ao contato não se entregam?

Eis, portanto, a janela para a dor do homem:
Manter confortável distanciamento de outrem
E assim feliz viver...

Neste terreno cascavélico de solidão ingente:
Quem conseguiria ser sem a presença do outro deleitar?
Quem poderia sem o olhar do outro ser?

Condição sine qua non para a existência,
A humanidade ri de nossa necessidade de aproximação
E desdenha do afeto que nos aprisionar deseja...
Émerson Cardoso

26/03/15

SONETO PARA AUGUSTO MATRAGA

Para Arturo Gouveia
Excelente, mil vezes excelente,
Torna-se a vida se Deus nela existe.
Quem na crença se resguarda e persiste
Encontra a paz de Deus eternamente.

Se nós em nada somos inocentes,
Se temos alma que ao mal não resiste,
Se deixamos a Deus por vezes triste
Com as nossas ações malevolentes...

Podemos repensar nossas condutas:
Mostrar alma serena e resoluta
A mudanças extremas da existência.

Agir qual Matraga em sua vez e hora,
Que fez o velho homem ir-se embora
E descobriu de fato a sua essência!  

 Émerson Cardoso

 (21/03/15)

SOBRE O DOM, JORGE, DE SER POETA

Para Dom Jorge
Quando o sol se põe, poeta,
O mundo é meu!
(Mas o compartilharei contigo!)

Em qualquer espaço em que me poste,
Quando o sol se põe, poeta,
A comoção me vem...

Como neste momento:
Um arrebol de vidro se desenha
Para além do alcance de minhas mãos,
Meus olhos acinzentados marejam
E o mar, que vai e vem à minha frente,
Parece cessar o movimento para entristecer comigo...

Tudo em mim é este aspecto eviterno
Que o sol deixa na terra quando se vai:
Se a vida dói, um-lenitivo-agora-me-é-servido...

Poeta,
Tome este tom do sol como presente
Sorria-triste por tê-lo em mãos,
Porque tenho ciúmes dele e pouco o tenho compartilhado
Você, no entanto, o mereceu...

Quando o sol se puser, poeta,
O mundo será nosso
E a fraternidade literária nos reunirá com austeros braços
Por uma existência inteira!

Logo mais, São Jorge rirá de nós na lua
E mil dragões teremos que, na vida, enfrentar:
Que seja esse sol em despedida a eternidade redescoberta
E que nossos olhos semeiem poesias com taurinas armas
Por muito tempo ainda, sob este sereno mar que nos espreita!

Émerson Cardoso
(Praia de Tambaú
João Pessoa – PB)

24/03/15