quarta-feira, 10 de maio de 2017

CEM ANOS DE ALEGRIA


Teço tranquilo manto
Com a ponta das pedras que me fustigam.
Canivetes resplandecentes
Transformo em adorno para meu pescoço.
Em meus olhos, quando nublados,
Espreito premonições sempre vindouras.  
Da pústula ganha na caminhada,
Pressinto sinceros sorrisos – e paz.
Se existe prego fincado à força,
Estanco o sangue na altivez da face.
Se irrompe corda a perfurar o fôlego,
Determino vida na rispidez do algoz.
Quando nasce rara e fugidia lágrima,
Crio piscina festiva e nela procuro o céu.
A dor, infame claustro e algoz insone,
Não tem chave capaz de me prender,
Não tem poder sobre meus ossos,
Não rirá de mim, porque costurei sua boca
Com a alegria intrépida que não sabe me abandonar.

Émerson Cardoso

10/05/17

DAS PÚSTULAS DO AMOR (ou do que não existe e fere)

Amor, traga a mortalha que me acariciará a pele.
É já momento para que eu me dispa de mim
E triturado seja por teus dentes de marfim e ácido.
Teus estreitos dedos, amor, perfurarão meus olhos,
Mas, na jornada entre a esperança e o túmulo,
Carregarei perfurações de sal e abnegação de urtiga,
Com punho erguido e respiração possível.

Amor, dos vermes que me espreitam a carne,
Compreensão-que-busco-sem-sucesso-sempre,
Tu és, certamente, o mais benéfico:
Em ti repouso à espera de putrefação e caos.

(Émerson Cardoso - 07/05/2017 - 09h28min)