terça-feira, 13 de agosto de 2013

SONETO DE QUEM ESPERA ESPERANTEMENTE


À espera... Que pensamentos tenho!
Guardo um frio estranho que me perpassa
Vil nublação numa janela obtenho:
Que este aspecto lúgubre se desfaça!

Cresce o silêncio em minha casa fria
Um mausoléu de eterna solidão
Por que tão triste a vida se faria
Nos átrios de ânsias do coração?

Espera... Que sensação angustiante!
É espasmo de sentida violência
Como um grito de loucura ocultar

Espera... Sensação dilacerante!
Presença que se faz maior na ausência
Imagem de quem chega sem estar...

Émerson Cardoso
(04/01/07)

(Poema apresentado e publicado por ocasião da I Mostra de Poesia "Abril para Leitura", do CCBNB - Cariri, em 2011)

domingo, 11 de agosto de 2013

BARCO EM FUGA



Ao longe um barco
Feria as águas
Comigo dentro.

Não pude compreender:
Como eu poderia estar
Naquele barco e aqui ao longe?

Deslizante barco
Nas oscilantes águas
Vai deslizando.

Comovido com minha ida
Acenei para mim mesmo
Com pressas de vento. 

E como numa fuga planejada
Eu por entre as águas
Meus olhos vendo...

Cinzentas lágrimas
Atormentadas
Com mil lamentos.

O barco foi mais forte
Sequer olhou
Para mim ao longe.

E eu descia,
Como quem sorria,
Para austeras sombras.

No barco resguardado,
Silenciei depressa
Sem qualquer pesar.

O barco insone
Feria as águas
Buscando distâncias. 

E eu caí do chão
Para o silêncio mórbido
De quem na cova entra.

Vertendo olhos,
Sobre as águas vãs
Realizando fuga...

Eu e Eu fugimos:
Cá na terra a culpa,
Nas águas, adeus!

Émerson Cardoso
(12/10/07)



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

DIMANCHE DE CAMOMILLE (ou: o porquê do título)

O título deste blog foi retirado da letra da canção "La Bastille", de Alex Beaupain, que aparece numa das cenas mais líricas do drama musical francês "Les chansons d'amour" (2007), de Christophe Honoré. O termo, que traduzido para o português seria "Domingo de camomila", alude à cor mais que amarelecida, mórbida, angustiante do domingo que ora metaforizo por meio da imagem da Matricaria recutita ou, simplesmente, camomila. Tudo pode estar vinculado a uma visão bem pessoal, obviamente, mas é assim que sinto o domingo à tarde: há o odor de velharias, a coloração em ânsias de morte e o amargor austero que inflama a boca. O domingo à tarde é (tenho dito) um gole de efervescente chá de camomila. As flores desta planta medicinal ornam com amargor as horas dominicais e assombram o silêncio das almas solitárias. Quanta calmaria proporciona a quem tanto deseja externar um grito?




O CHÁ

I

Sentada, com sombrios cílios,
E o corpo colado ao espaldar da cadeira,
A Solidão arruma o vestido cinza
Enquanto me olha com tranquilidade...

No mundo, resquícios de um domingo à tarde.


II

As lâminas do silêncio
Fustigam minha pele-frágua, 
A Solidão, intensa, despe-se em palavras
E sombras que sorvo em gole rápido...

O medo tem humor sádico.


III

De repente, a Solidão faz ar de riso
Com ossos do rosto à mostra
E aspereza cadenciando o gesto:
Eu, silêncio e náusea, envolto em dominicais mistérios...

Mergulho em goles de chá que me afogam em rios de tédio. 



 Émerson Cardoso 
(10/12/11)