sexta-feira, 9 de agosto de 2013

DIMANCHE DE CAMOMILLE (ou: o porquê do título)

O título deste blog foi retirado da letra da canção "La Bastille", de Alex Beaupain, que aparece numa das cenas mais líricas do drama musical francês "Les chansons d'amour" (2007), de Christophe Honoré. O termo, que traduzido para o português seria "Domingo de camomila", alude à cor mais que amarelecida, mórbida, angustiante do domingo que ora metaforizo por meio da imagem da Matricaria recutita ou, simplesmente, camomila. Tudo pode estar vinculado a uma visão bem pessoal, obviamente, mas é assim que sinto o domingo à tarde: há o odor de velharias, a coloração em ânsias de morte e o amargor austero que inflama a boca. O domingo à tarde é (tenho dito) um gole de efervescente chá de camomila. As flores desta planta medicinal ornam com amargor as horas dominicais e assombram o silêncio das almas solitárias. Quanta calmaria proporciona a quem tanto deseja externar um grito?




O CHÁ

I

Sentada, com sombrios cílios,
E o corpo colado ao espaldar da cadeira,
A Solidão arruma o vestido cinza
Enquanto me olha com tranquilidade...

No mundo, resquícios de um domingo à tarde.


II

As lâminas do silêncio
Fustigam minha pele-frágua, 
A Solidão, intensa, despe-se em palavras
E sombras que sorvo em gole rápido...

O medo tem humor sádico.


III

De repente, a Solidão faz ar de riso
Com ossos do rosto à mostra
E aspereza cadenciando o gesto:
Eu, silêncio e náusea, envolto em dominicais mistérios...

Mergulho em goles de chá que me afogam em rios de tédio. 



 Émerson Cardoso 
(10/12/11)


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