segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ELEGIA A FEDERICO GARCÍA LORCA



Choram janelas semiabertas
Plantas purpúreas choram
Sombras das árvores fremem
Choram nuvens alterosas

Teus pés dolentes choram
Choram flores repisadas
Sussurra o vento e chora
Por tuas mãos aprisionadas

Logo à frente a morte
Passeio último que assombra
Teu sangue um verso pressente
Chora por ti a Espanha 

Que metáforas desenham
Teus olhos vendados?
Imagens poéticas te vêm
Quando te assombra a lua?

Uma velha cigana corre
Segura-te no colo e chora
Cavalos austeros galopam 
Gemendo por tuas fráguas

Mas o destino te fustiga:
Perecerá teu corpo inocente!
A cigana velha grita
Vermelho vestido ao vento

O passeio prossegue:
Coração confrangido
Pedregulhos pisados
Amortalhado silêncio...

Canções ciganas ecoam
Janelas teu corpo espreitam
A Espanha lamenta
A Andaluzia um filho perde...

Palavras aprisionadas
Penetram em pesadas armas
Prateado grito produzindo farpas
Preparadas apontadas palavras

Por fogo perpassada
A alma sentida sozinha cala
Despe a solidão o tempo insano
Em que vala teu corpo reinará?

A Espanha é uma Pietá desesperada
Caronte o aceita de abertos braços
E a velha cigana grita e geme
Correndo enlouquecida

Janelas flores nuvens
Pedregulhos sombras mágoas
Cavalos armas murmúrios
Prisões sepulcros mortalhas 

Teu corpo tombou pungido
Avermelhando de poesia a terra
Mártir andaluz, morremos todos:
Teu coração é nossa sepultura!

Émerson Cardoso
(02/09/13)

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