Tenha em
mãos o corpo de algum ser humano.
(Morto,
de preferência!)
Assegure-se
de que este esteja despido
E não
higienizado.
Coloque-o sobre uma mobília
(A
mobília deve ser recoberta com limpo lençol)
E em
destaque em espaço contíguo.
Sente-se e espere, por alguns dias:
Importante
não espantar as moscas que sobre ele bailarem.
Quando
perceber um odor putrefato no ar,
Quando
assomar inevitável decomposição,
Passeie,
sobre o líquido podre, sua mão.
Leve-a generosamente
às narinas
E sorva o
irrevitalizável odor
Sem
pudor, náusea ou receio.
Se larvas
começarem a irromper,
Tome as
larvas nos dedos e quebre-as nos dentes.
Ao
perceber necessidades de sepultamento,
Despeje
os restos mortais em esquife não untado
E
livre-se, sem velório, deles o quanto antes...
No mais:
Leve
sempre a decomposição nos olhos,
A
putrefação por toda vida resguarde em suas narinas,
Nas mãos,
sinta a liquidez da carne finda,
Relembre
infinitas vezes o abismo que o esquife preencheu...
Pronto: a
receita de humanidade para arrogantes se deu!
E guarde
consigo sempre
(E
confesse sobre os telhados)
A certeza
profética de que dispõe:
De ser um
ser humano, nesta vida,
Com
direito à decomposição,
Sequer os
arrogantes se livrarão!
Émerson Cardoso
28-31/01/14
CARDOSO, Cícero Émerson do Nascimento. Receita de humanidade para arrogantes. Revista Satírika, n. 14, p. 15 - 16, ago. 2017.
"Pronto: a receita de humanidade para arrogantes se deu!"
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