quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ODE PARA O VIOLINO QUE NÃO SEI TOCAR


Há coisas para as quais nasci
Não para ti, violino,
Não nasci para ti, 
Nem para mim nasceste.

Apenas verto anseios direcionados
Aos que roubam de ti dores melódicas.

Desço aos lastros da contemplação
E deslizo em ti com perfurantes olhos.

Solitário, rasgo cortinas mórbidas
O tempo entre o não te ter e o desejar.

Tuas singelezas despem minha veste cinza
E imerso em trevas ouço tua voz ao longe.

Longínqua voz e invasivo som
Sussurras sombrio dançando no vento.

Tuas carícias me invadem os sentidos 
E desço serpenteante ao chão sem pouso.  

Maledicente abres em mim ferinas fráguas,
Porque és sádico.

Quem dera fosses de minha alma a fuga.
Quem dera amasses de minhas mãos o gesto.

Ó, violino, quem está mais triste
Tuas plangentes cordas ou meu devassado olhar?


Émerson Cardoso
12/02/15

POEMAS VERTIDOS DO AZUL DOS OLHOS (ou: como se publicação fosse fácil no Brasil!)

Para Ana Luiza Crispim
Descem poemas límpidos
Do azul dos olhos desta menina
Eles desejam repousar em páginas de algum livro...

Correm imagens de grandeza frágil
E cores translúcidas que agridem o espelho
Dos olhos dessa poetisa que silencia aos gritos...

Vocábulos despidos (empregados com destreza)
Movidos pelo talento conseguem entrar em versos
Cuja grandeza tornou-se dizer-muito-ao-dizer-em-pouco...

Sons de sinos que gritam à tarde,
Esses poemas querem em livros zombar de nós:
Publicai-os, sociocultura brasileira de incentivos poucos!

Descem poemas fúlgidos
Do azul dos olhos dessa menina
E resta-nos esperar deles o que é tangível

Porque a luz dos olhos dessa poetisa
Comporta muito do que é melhor e lírico
E deve em livro suas vivências finalmente materializar...

10/02/15









terça-feira, 2 de dezembro de 2014

POEMA SEM PRETENSÕES (Ou: nada-de-nada-de-nada)

Hoje me vi
Sentado numa calçada 
Lendo em voz alta
Poemas de García Lorca.

Manhã de sábado
À sombra de um jambeiro
Entrecortado pelas imagens 
De carros e árvores.

Sentado no paralelepípedo 
De uma calçada anônima
Sozinho na capital da Paraíba
Me deixei ficar.

Mochila ao lado,
Óculos corrigindo a vista...

Um lastro de felicidade me sorriu 
Na manhã que me devassava.

Então ser feliz é isto?
Ser aluno abandonado 
À espera de transporte,
Após aula de francês,
Tendo García Lorca em mãos?

Como a compensar dores não cicatrizadas, 
Veio o ônibus e me levou obediente
Para o contorno de vida que criei.  

30/11/14