quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ODE PARA O VIOLINO QUE NÃO SEI TOCAR


Há coisas para as quais nasci
Não para ti, violino,
Não nasci para ti, 
Nem para mim nasceste.

Apenas verto anseios direcionados
Aos que roubam de ti dores melódicas.

Desço aos lastros da contemplação
E deslizo em ti com perfurantes olhos.

Solitário, rasgo cortinas mórbidas
O tempo entre o não te ter e o desejar.

Tuas singelezas despem minha veste cinza
E imerso em trevas ouço tua voz ao longe.

Longínqua voz e invasivo som
Sussurras sombrio dançando no vento.

Tuas carícias me invadem os sentidos 
E desço serpenteante ao chão sem pouso.  

Maledicente abres em mim ferinas fráguas,
Porque és sádico.

Quem dera fosses de minha alma a fuga.
Quem dera amasses de minhas mãos o gesto.

Ó, violino, quem está mais triste
Tuas plangentes cordas ou meu devassado olhar?


Émerson Cardoso
12/02/15

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