domingo, 27 de novembro de 2016

ODE PARA CHUVA SEM CAVALO


Cavalo que tirei da chuva,
Mastigarei resignação
E engolirei dor e distâncias.

Todas as nuvens choramingam
Enquanto o sol resseca o lábio
E xilograva ocaso e vento.

Enquanto a solidão ressona
Amortalhada ao meu redor,
O estio perfura minhas mãos.

Cavalo tirado da chuva,
Por sendas amargas irei
Furando facas com os olhos.

Émerson Cardoso

27/11/2016

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

DOGVILLE (minha versão)

"O Povo", de Eduardo Marinho 


Alicerce, portas, paredes não-mais.

Homens prosseguem abrindo úlceras.
Mulheres revolvem peles com dedos apodrecidos.
Cacos de vidros raspam ossos.

Intransigentes pregos martelados nas unhas.
O baixar dos olhos em cada cuspida. 
Desfile fraterno em tapete de hostilidades.

Sangue e água na refeição dos homens.  

Silêncio apenas – porque guardado o grito.
Qualquer nota exibiria
Meu desejo de engolir músculos cardíacos. 

No chão, meus pés vazios trazem dentes afiados.
Émerson Cardoso
24/09/2016




UMA (NÃO) PRECE À LUA


Lua de mortalha aberta em riso amargo,
Que esperas de mim:
Que eu te implore do amor cruentas fráguas
E humilde aceite o sepulcro aceso que me queres dar?
Escorpiões me espreitam em tuas sendas, Lua,
Mas pele não tenho para urticante agrado.
Quero silêncio em meus pés compungidos
E solidão em meus cadentes olhos...

Amor? Não, Lua, não creio, não devo, não careço!
Perfurado, o peito aspira pouco
E por estar sozinho não perderei a paz!

Émerson Cardoso
07/11/16